domingo, 1 de fevereiro de 2009

Crueza

A fome sobre a mesa
Mexe no futuro da certeza
E só o olhar absurdo
Desse olho mudo-surdo
Abocanhando a presa.
Alijando seu deserto
A vida é jogo incerto
Sangrando a céu aberto
E cobrando a hora tesa.
Romper lugar segregado
À mercê do mercado
Um antídoto à crueza.
A fome tem voz estridente
Recruta muita gente
E reverbera na tua mesa...

Tempestade de um adeus

Teu coração, uma tempestade.
Meu peito, um barco
Rasgando calmaria.
E se perde nessa tarde
O lume da noite e do dia.
Meu coração ronda, ronda
Em todos os bares
Agoniza em todos os lares
Vive perdido nese cais
Náufrago dos sete mares
Da tua voz a dizer jamais.
E o meu barco em branca vela
À deriva dos olhos teus
A solidão já nos revela
O sonho perdido no adeus.

Turbulência

Tudo em mim é explosão.

Palavras em chamas

Saindo da minha imensidão

Caindo de mão em mão

Roubando do silêncio

Gritos forjadores

A fazerem dores de caminhos

Pelos espinhos e flores no porão.

A alma vive trauma e desilusão

Tudo em mim é explosão

E o coração ronda a onda

de um novo chão...

Desencontada busca

Esse olhar fugidio
Brilha e me dar arrepio
Busca-me no desvario
E corre sem sonhar.
Mesmo sorrindo me diz
Mesmo mentindo
promete sem findar.
E planta desejo
E me anima em beijo
Faz-me acreditar.
E o que importa a realidade
Se é torta a verdade
Na certeza desse olhar?

Rio veloz

Veloz em erosão o rio
Canta no arvoredo, o encanto mil
E dá medo a emoção.
A água lavra as pedras
Revolve vida, envolve-se,
Medra o chão.
A água dos meus olhos
Lava os ferrolhos do coração
E por mais que me molho
Tem nos seus abrolhos
A marca da paixão.
Veloz, o rio, veloz
E faz de sua voz
A única razão.