quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O poeta Chico Berg.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Do que resta a floresta?

São mais de cinco sóis a secarem os sertões
Vertidos de anões das lágrimas sem foz
Roubando-nos da vida
Compactuada, fratricida
E renhida nos anzóis.
São cinco os trincos, das razões de zinco
Abrindo em trilhos, moldando-nos os filhos
Aos olhos dos Caapós.
E no rito e conflito, dormitam no infinito
Sem se soltarem dos cós.
São cinco o destino, postergado de sol a pino
Dos Cariris e Pataxós.
Deitados no desatino no atino dos torós
São cinco vertentes nas barragens do Orós.
A trincarem os dentes,repelidos,renitentes
Durante, antes e após.
A deterem afluentes ,sem responso dos repentes
Sem lenço e sem lençois
(Chico berg do livro:"Diálogo do vento"/2003)

quinta-feira, 15 de maio de 2008

O grito do silêncio

Singro o amor
Sem remo, sem rumo
Há algo que revela
Ou esconde
Desvela onde assumo
Páira o vazio desse amor vadio
À deriva no eito
Meu grito é o silêncio
Explodindo no peito...
A insônia delira
E meu sonho vira
Tua mentira.
Ao ouvir de ti esse silêncio assim
Capaz de roubar de mim
O que nada mais espero.
E, desnundando-se em si
Sorrir ainda é o único jeito
De dizer que te quero...
(Chico berg, do livro"Poema na contramão")

Obsessão

Caminho limpo , horizonte claro
No instante declaro,
Absolvição da alegria.
O terror, o pesadelo,a repressão
Não vencem a utopia
E comungamos o dia-adia
Nessa subversão
Ao quebrar do medo de sonhar
A recriação da fantasia.
Nesse caminho limpo,
Nesse horizonte claro
Custa caro, custa a vida
E não tão raro, comparo
a virtude de amar que disparo
Em direção a plenitude
A mais cruel obsessão!...
(Chico Berg do livro "Poema na contramão")

quinta-feira, 13 de março de 2008

Suplício da paixão

Trama o turbilhão
Turvando a visão
Feito suplício.
Tão remoto fique
Acesso no repique
Velada sem artifício.
Trama o drama
Na cama ou no chão
Geme e reclama
No leme da ilusão
Feito obcessão...
Tudo ou nada
Na calçada da rua
Seu disfarce sua
De tão nua e tão ousada.
Trama o turbilhão
Trava e vira algazarra
Quando esbarra no coração.
Essa paixão inunda
Sufoca,traga,afunda
Naufraga e se rasga
Em vão...

quarta-feira, 12 de março de 2008

Lassos

Passos lassos
Em descompassos
Vão sem a abraços
De sonho amável.
Nesse tempo, contratempo
Sem esforços dessa sede
Insacáavel
Corre,sai dessa cama.
E vem pro meu
Corpo em chama.
E vem pro meu corpo em chama
Vem ver vontade insana.
vem e corre logo,
Que o coração reclama.
Vem e corre logo
Sangrando, sangrando
De carência.
Passos lassos
Em descompasos
Incoerência ou inconsciência
E o tempo querendo fechar...
( Chico berg,do livro:"Poemas para amanhecer")

Pelas margens

Vagueio pela cidade
Às vezes de ônibus ou a pé.
Atravesso claridade
Às vezes oculto ou na fé...
Sem destino,sem atino
Sem escolha de caminho.
Sou um velho-menino
Vivendo o desalinho.
Vagueio feito vulto
Num chorar sem fim.
É que o mundo tem indulto
Só pra mim...
E a vida às vezes torta
Grunhindo na multidão
Às vezes estreita e morta
Sem estender as mãos pra mim...
( Chico berg,do livro: "Poemas na contramão"/2006)

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Idéias enjauladas

As palavras
Já não me dizem nada.
Estão soltas na calçada.
Se ninguém as entende
E não há quem a sinta.
A verdade se estende
Na cabeça de quem minta.
Se tem asas partidas
À míngua desnutridas.
Sem ideário,sem vocabulário
Do mal que presinta.
De operário sem salário
Palavra distinta.
As palavras
Já não saem objetivadas.
São idéias enjauladas
Vendidas, compradas
Sonho precário, vidas no crediário
Adiadas, faminta...
(Chicoberg, do livro:"Versos in versos"/2000)

domingo, 24 de fevereiro de 2008

História de pescador

Canta a maré cheia
E os homens na areia
A pensar...
Do lado de lá
A coisa está feia
A fome nos rodeia
E vamos remar!
Olhos vermelhos da mulher
Olhos nos espelhos ninguém quer.
Antes que a tarde caia
Chega a lua na praia
E soluça o mar.
E seus homens não voltaram
O mar que alimenta
Agora tudo arrebenta
E elas pungem a fitar.
Canta a maré cheia
Amanhã outro dia
A noite vazia
Agonia o sonhar...

O grito do silêncio

Singro o amor
Sem remo e rumo
Algo me revela ou esconde
E desvela onde assumo.
Páira o vazio desse amor vadio.
Á deriva no eito
Meu grito é silêncio
Explodindo no peito.
A insônia delira
E meu sonho vira a tua mentira
A ouvir de ti esse silêncio assim
Capaz de roubar de mim
O que nada mais espero.
E, desnundando-se em si
Sorrir ainda é o único jeito
De dizer que te quero...

Duas faces

Há em mim
Mania de paixão
Um sonho de amor e ira
Uma página deserta
E uma mulher sem coração.
Há em mim
Olhar que delira
Uma vida de perna aberta
A gargalhar suas mentiras
Em dia e noite incerta
Sem razão.
A reavaliar o amor
Escondido no porão...
(Chicoberg do livro:"Poemas na contramão"/2006)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Ìris

Lágrima profunda
Inunda agora
Aflora imunda
Sem hora pra desabar.
São fatos sem foto
Anonimato remoto
Rebato, anoto
Regato a calhar.
Primeira sem segunda
Se afunda no ato
Pela flora do mato
Fecunda acato
Embora redunda
Desato sem falhar.
Lágrima aflora
Na calha mirante
Ìris pensante
Do outrora atuante
Desaba, explora
Tralha a talhar.
Fato do feto que fito
Na foto e furto olhar
Lágrima,légua, liga
Logra, luto molhar...
( Chicoberg,do livro"Mãos/2004")

Resenha

A lua brigou com o sol
O sol acordou-se mais cedo
A lua de caso novo
Isso nem é mais segredo.
Feixes de raios
Resenha, enredo
Põe lenha, desmaios
Sem medo.
Corre claro
Corre lagedo!
A lua brigou com o sol
O sol acordou-se mais cedo
A lua de caso novo
Isso nem é mais segredo.
Faísca no paiol
A revelia do claro cedo
Gira o dia em torno do sol
Na mais valia do bredo...
(Chico berg, do livro:"Mãos/2004")

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Rejeito

E desse céu, sou réu.
Escondi-me nesse véu
Feito labéu
Exigi o mel, bebi o fel.
Rodei carrossel
Sem roldana e papel
Fui livre, fui infiel
À noite fui tetéu
Pela ruas e berel
Do rejeito em tonel
No abandono tão fel
Enguli a dor cruel...

Testemunha

O silêncio noturno

Grita-me teu nome.

O pensamento soturno

Busca teu olhar

Que nas luzes se some.

Sigo tuas loucuras

Nas agruras da solidão.

Estás só, sozinho estou

E caminhamos lado a lado

Mutilados dessa aflição.

Coração perto,corpos distantes

E a noite com sua cravada unha

Faz-nos errantes.

E só a lua testemunha...

Insônia dos anjos

Acordo cansado
Dos braços do sono
Só no abandono
Refiz essa paz.
A calma, perdi
No amor que vivi teu corpo
Nada mais me compraz.
Dos teus olhos
Ganhei o desejo.
Do sorriso, a aflição.
Hoje o peito no arquejo
Ganhei dos teus beijos
A solidão...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Desejo noturno

As estrelas me marcam
Tua ausência assim
Roubando-me a calma.
Teu silêncio
Fere-me a alma
Na solidão que dói
Em mim.
Assim
Singro o amor
Pelo mistério de calar
Ouvindo de ti
Esse silêncio que me corta
E nem se importa
De me negar.
Estrelas cadentes
Perdem-se da noite
E eu ardente a contemplar
Tua nudez no acoite.
E nada vem do acaso
Tu dormes e eu me abraso...

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Revelação

A utopia hoje é o sino batendo
E me chamando pro fim.
E eu me gerando teimoso
Como o rio caudeloso
Me negando asim.
A alegria tem gosto de alecrim
E à revelia revela
A criança na janela
Que há em mim...
E eu me negando
Escondendo-me airoso
Como um rio cauteloso
Sobre meu jardim.

Indiferença

Vidas curtas e retas
Sobre pernas longas e tortas
A se arrastarem, a se fecharem
Feito portas.
E no beco vazio e seco
De idéias vagas e mortas
Assim vago
Nem estreito nem largo
Num doce amargo
Das comportas.
Divaga a vida, olvida
Passa e não te importas
Com o olhar
Que não se curva
Não se turva
E ainda cortas...

Balada de barco

Longe, longinquo tange
Iniquo ringe, range...
Invado-me sob todo aspecto
E me futuro no retrospecto.
Momento de descoberta
Na brisa e aragem
Arrecifes brigam
E beijam as águas.
Miragem nos penhascos e proas
Dissolvem à toa mágoas.
Balada de barco no universo
Sem arco, sem crivo, só verso
Prova de que existo...

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Sangria de palavras

Nas esquinas as feridas
E as vidas acuadas e desatinas.
E suas histórias se somam
Se aglutinam na bruta agonia
Do dia-a-dia que desafia
Como tantas rosas
Que se destinam.
Pelas rachaduras do mundo
Universaliza essa sangria
Nessa dor, verso oriundo
Sem palavra
Escondida dos olhos
Em cada lavra
De quintal ou beco.
Inventam auxilio
Levam ao exílio
Desse sonho seco.
( Do livro:"Poemas na contramão"/2006)

VESPERAL

Esse ano comecei sangrando
Pesadelo de um ano novo
Desmantelo do povo
No desando.
Sob medo cotidiano
Medo real, medo urbano
Medo rural, medo mano
Medo marginal, engano.
Fere a flor
Entre carne desandou
Ceceado, censurado
Nos braços, nas mãos
Do andor.
Itinerário no calendário
Esse sopro, perdão, estuário
Feriado, amontoado no chão
No suor, nas lágrimas
Por certo sangrarão...
( Do livro:" Poema na contramão"/2006)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

CAMARÁ

(Uma cidade destruida pelas águas de uma barragem feito pelo governo da Paraiba)

O remo não rema no rio
Só a lágrima no desvario.
O rio no meio fio
Leva os sem sono.
A lágrima sem desafio
Nas águas do abandono.
O remo não rema no rio
Perdido me acho
A morte, a vida a fio
Lágrima vira riacho.
Pelos mortos o frio geme
Justiça, impunidade não teme.
O remo não rema no rio
O medo no desvario...
(Chicoberg,do livro:" O cio da flor"/2004)

AVERSÃO

Pra que ter medo
Se o desejo
Não foge?
Pra que o degredo
Se segredo de amor
Não se guarda
Em alfoje?
A lua nunca foge
Do sol
Nem quando
Os trovões em grito.
Lá nas nuvens
No frio do lençol
Encontra-se no calor
Do infinito....
Pra que ser
Estrela decaída
Se na ilusão da corrida
Só o chão é despedida?
Pra que segredo
Se o medo é a chave
De degredo?
(Chicoberg do livro:"Diálogo do vento"/2003)

ENCRUZILHADA

Canto de amor a todo custo
Pelas vielas do mundo
Submundo e susto
Represado, fudido
Trancado e sem janelas
Esparrelas no ido
Pranto que contive.
Canto de amor
Tranco de encruzilhada
De quem vive
Como cerca em riacho
Onde a miséria e seu grito
Rasgando infinito
Desce de goela abaixo
E só o medo convive...
(Chicoberg, do livro:" Mãos"/2004)

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Degredo

O silêncio é uma casa.
Um desejo sem vôo
Amontoado de enjôo
Sendo tijolo e asa...
Argila sem mão
Mudez sem parede
Visão sem expressão
Água sem sede...
O silêncio no chão
Nina-me na rede.
Vôo na canção
Entre quatro paredes.
No apartamento
A voz entre salas
Balança-se no vento
Sem o canto das falas...
( Chicoberg do livro:"Poema na contramão"/2006)

Pedra sabão

Rompe o silêncio
Sem abraço.
Explode o aço
Da viva voz
E sangra poesia
Entre nós.
Retoco o semblante
Do tempo...
Inquieto contratempo
Algoz.
Enquanto no amor morro
Verso faço
E me esforço no espaço
Antes corro
No esporro da ilusão.
Uivo nos mares
Canto nos ares
No beco das pedras
Angulares
Acendendo multidão.
Apago escuridão
Com pedra sabão...
( Chicoberg do livro:"Poema na contramão"/2006)

Arcabouço

Lá, do lado de lá
Lá, do lado de lá...
Tem um cercado, uma cerca
Coibindo passar.
Tem um futuro sem agrura
Carne em flor que fura
E um muro proibindo sonhar.
Lá, do lado de lá
Lá, do lado de lá...
Há olho grande inseguro
Promessa de amor puro
E cárceres a tocaiar.
Lá, carne sem osso
Olhar de arcabouço
Desejo de calabouço
Colosso no fundo do poço
Silêncio, segredo sem revelar.
Lá, do lado de lá
Lá, do lado do lá...
E eu no lado de cá
Sem se iludir nem vacilar
Na espreita desse riso
A insurgir no olhar...
( Chicoberg, do livro:"Poema na contramão/2006)

Barbárie

Latifúndio desmata
A fome ou a doença
Mata.
A morte tem nome
Regida da mentira
Se consome na ira
E se some por trás da mata.
O latifúndio retrata
No degredo
O medo da morte
Maltrata e guarda segrdo
Revidando o amar
À revelia a agonia
Se reveste de mais valia
Pra roubar-nos o sonhar.
(Chicoberg do livro:"Poema na contramão/2006")