quarta-feira, 21 de novembro de 2007

DOR DE CABEÇA

Não se esqueça,Zé
Não se esqueça,
Fome dá dor de cabeça!
Se agonia a ralé
Na vida atravessada
A visão fica intifada
Não se esqueça,Zé
Não se esqueça,
Fome dá dor de cabeça!
Fome,fome demais
Rouba sossego mordaz
Pobre sem sono
E o rico sem dormir em paz.
Abandono tira sono,Zé
Não se esqueça
Fome dá dor de cabeça!
Na infância e juventude
Tome atitude, antes que aconteça
E o mal se estabeleça.
Esperança, uma ponte
A espera, o espeto da fome.
Futuro, um gueto sem nome
Sem horizonte,nem há quem cresça.
E o mal nem se emperra e tome guerra.
Não se esqueça
Fome dá dor de cabeça...
(Do livro: "O cio da flor"/2004)

ISCA

O rio vira mar
E o mar vira onda
E vem o arrebol se banhar.
Até esse sol virar lua
E o luar virar sol
E a noite naufragar...
Feito ondas nas pedras
E pedras nas ondas
Martelando sem cessar.
Vou fincar nesse farol
E o tempo me dizer
Até quando durar.
Escutar o alarido
D o sono garrido, banido de mim.
Pescador,também sei pescar
Tambem sou assim...
Trafego no mesmo rol
Pelas bandas do atol
Na mão e contramão
Onde viver faísca
Usei de ísca
O coração...
(Do livro:"O cio da flor"/2004)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

SEMENTE DA RAZÃO

Abro meu verso
Pro universo do coração.
Abro a boca do chão
E planto palavras,
Semente do não
Negando perverso
O inverso da ilusão.
Abro meu coração
E planto de mão em mão
A razão.
Sonho imerso
Da realidade averso
Singra sangrando
Na contramão...
(Do livro:"Poemas na contramão"/2006)

POENTES TARDES

Espuma e esperma
Mesclam-se e gotejam
De desejo boca-a-boca
E rastejam tão oca
Tão pouca de beijo.
No corpo ardente
Pertinente arquejo
Esperma e espuma
Latente, espersa
Esparsa, carente
Comparsa, sua vermente.
Na cama sem drama
Na piscina se ama
Na tarde poente.
Espuma e esperma
Esperma e espuma
Em ruma tem rumo
No vôo tão rente
Do repente de alguma
Se não for por uma
Ou nenhuma,atente!
( Do livro:" Poemas na contramão"/2006)

terça-feira, 13 de novembro de 2007

domingo, 11 de novembro de 2007

Quando o homem sonha

Quando o homem sonha
O mundo gira
Vira
Aproxima
Rodopia
Pula
Qual mula com medo.
Como o balão
O pião
E a carapeta
Rodando,rodando
Sem freio
Se acende
Transcende
Muda o planeta.
Quando o homem sonha
Salta
Faz arremedo
Delira
Grita
Amanhece mais cedo.
Quando o homem sonha
A mão se agiganta
Canta
Se encanta
Espanta rochedo...
( Do livro:"Alma das mãos"/1975)

sábado, 10 de novembro de 2007

Tatuagem

O pranto presente
Fez-se nódoa indelével
No interior.
Gravou-se-me o corpo
Como chaga renitente
A refletir-se em toda vida
Imagem de estimação...
E a vida vaga erosão
Marca-me com arte e luta
Feito bandeira, estandarte
E batuta
Carimbando com ferro
Animais caídos
No berro dos excluidos
A fotografar
Verdade existente
Mancha indolor
Clarividente...
( Do livro:" Poemas,poemas,poemas..."/1974)

Andarilhos

Na sede de sol
Vagamos despertos
Como insetos
Nos desertos das lâmpadas acesas.
Bisbilhotando
Bêbados
Sonâmbulos
Como astros infelizes
Criando rastros dispersos
E cicatrizes
Das noites presas...
(Do livro:" Poemas, poemas,poemas..."/1974)

Anjos nus

Lábios despidos
Bocejos nus.
Corpo em arquejos
Desejos de olhos azuis...
Quem conduz, quem conduz?
O olhar benfasejo
Desse sonho em ensejo
Desses olhos tão azuis...
Quem seduz, quem seduz?
Esse corpo anjo
Num repente
Serpente de luz!...
( Do livro:"Poemas,poemas,poemas..."/1974)